Na cidade de Agenor também viviam quatro meninos cegos.
Depois da experiência que tivera em sua horta, Agenor compreendeu o valor do amor ao próximo, da caridade, e sempre que tinha um tempo ia ao encontro daqueles meninos cegos para lhes levar um pouco de atenção e afeto.
Certo dia, Agenor chegou muito excitado e foi logo dizendo, aos seus amigos, que o circo havia chegado à vila. E tinha mais, junto com o circo, tinha vindo um elefante !
Os meninos já conheciam vários animais, especialmente animais domésticos. Eles já haviam tocado, abraçado e sentido o cheiro de gatos, de cachorros, de cabras, de porcos. Um deles já tinha até subido em um cavalo ! Mas de elefantes só tinham ouvido falar.
Agenor tentou explicar-lhes como eram os elefantes e disse o seguinte:
— Elefantes são animais enormes, gordos. Sem dúvida, os maiores. Só o rabo é pequeno. Têm um longo nariz e dois dentes tão grandes que não cabiam dentro da boca.
Como será que os meninos cegos imaginaram um elefante ?
Agenor logo compreendeu que não adiantava muito ficar falando. Afinal, o que é conhecer? Não adianta eu tentar explicar a vocês qual é o gosto de uma maçã. Por mais que eu explique vocês só ficarão conhecendo o gosto de uma maçã depois que a experimentarem.
Resolveram ir, todos, até o circo para ficar ‘conhecendo’ um elefante.
Chegando ao circo Agenor os aproximou, com cuidado, para que eles pudessem ficar tocando o elefante.
Um deles segurou a tromba do elefante, sentiu seu movimento e logo exclamou:
— O elefante é parecido com uma cobra !
Outro, que havia tocado e balançado a orelha do elefante, discordou:
— Ele parece mais com um abano, daquele que usamos para espantar moscas.
O terceiro tinha abraçado a pata do elefante, gorda e imóvel, e falou:
— Não sei como vocês podem dizer isso, o elefante se parece com uma árvore que tem a casca um pouco mais macia.
O último menino cego segurou o rabo do elefante. Anunciou veemente:
— Nada disso, elefante é como uma corda e tem um cheiro bem ruim!
Pronto, a discórdia se estabeleceu, e não foi fácil para Agenor esclarecer as dúvidas. Tentando explicar para o primeiro menino que elefante não era uma cobra pediu-lhe que apalpasse o resto do rosto. Acabou ouvindo a pergunta indignada:
— Pô, Agenor ! Porque você não explicou logo que elefante tem o rabo na frente ?!