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Enquanto os responsáveis pelas eleições implantam novas máquinas eletrônicas de votação na esperança que suas jurisdições não sejam "a próxima Flórida" em 5 de novembro próximo, especialistas em computação estão alertando que estes sistemas são sujeitos a erros e fraude.
A acusação é contestada pelos fabricantes da tecnologia.
Nas próximas eleições, 21% dos americanos irão votar em sistemas eletrônicos, contra 12% nas eleições presidenciais de 2000, de acordo com a Election Data Services Inc., uma empresa de consultoria de Washington que realiza pesquisa sobre equipamentos de eleições. Estes sistemas de "registro eletrônico direto" - abreviado por sistemas DRE - apresentam geralmente ao eleitor uma tela com os candidatos e contabilizam seus votos em bits num computador.
Só a Geórgia gastou 54 milhões de dólares para implantar em suas 159 comarcas 19 mil máquinas DRE. Comarcas e zonas eleitorais da Flórida, Maryland, Califórnia, Texas, Pensilvânia, estado de Washington e outros também implantaram estas máquinas.
"Cartões perfurados ficaram com uma fama tão ruim que está havendo uma pressão política para convertê-los rapidamente" diz Penelope Bonsall, diretora do Escritório de Administração das Eleições da Comissão Federal Eleitoral em Washington.
"Mas em sua pressa, os responsáveis pelas eleições estão trocando o demônio que eles conhecem por uma porção de outros problemas", diz Rebecca Mercuri, uma especialista em votação eletrônica e professora de ciência da computação no Bryn Mawr College perto de Filadélfia.
Nas eleições primárias de setembro na Flórida, o epicentro da controvérsia de 2000, máquinas tiveram uma inicialização tão lenta que as seções abriram com atraso. Alguns sistemas deram problemas e travaram durante a votação. E outros não puderam ser reiniciados quando um tribunal ordenou que as seções permanecessem abertas duas horas a mais para compensar os defeitos da manhã.
Em outras eleições na semana passada, alguns eleitores de Dallas não conseguiram selecionar candidatos do Partido Democrata em sistemas DRE, que entretanto confirmavam os do Partido Republicano.
A Geórgia, que testou seus sistemas DRE nas primárias de agosto, descobriu que 11% das mqáuinas falharam. A Diebold Inc., fornecedora dos equipamentos na Flórida, declarou se tratar de erro de operação.
Mas é a natureza de "caixa-preta" das máquinas DRE que incomoda a maioria dos especialistas. Os votos entram por um lado, os resultados saem por outro e há muito pouco espaço para garantir de modo independente o que acontece no meio.
"Como é que você sabe que seu voto está realmente ali?" pergunta David Chaum, um especialista de criptografia que está estudando o problema da verificação do voto.
Peter Neumann, principal cientista do Laboratório de Ciência da Computação da SRI International em Menlo Park, Califórnia, diz que introduzir erros ou código malicioso não é difícil para aqueles que escreveram o software original destas máquinas.
Os fornecedores consideram seu software e hardware segredos comerciais. Laboratórios independentes têm permissão para inspecionar o código, mas somente sob contratos de confidencialidade. "Nem mesmo os responsáveis pelas eleições locais, e muito menos cidadãos e candidatos, estão autorizados a examinar como as máquinas trabalham", diz Rebecca Mercuri.
Mercuri está especialmente preocupada com os funcionários de eleições que devem reprogramar as máquinas a cada eleição, e que podem manipular o processo ou causar erros inadvertidamente.
Os fabricantes rechaçam vigorosamente estas acusações.
"Estas críticas são muito fortes e são infundadas" diz Brian O'Connor, vice-presidente de vendas e marketing da Sequoia Voting Systems de Oakland, Califórnia.
Os fornecedores de DRE "se submeteram a um processo de certificação muito rígido, tanto no plano federal quanto no estadual, que garante que as máquinas são 100% seguras" diz ele.
"Os sistemas da Diebold são liberados em seus locais antes das eleições para que os responsáveis possam verificar que funcionam como previsto", diz Mark Radke, diretor industrial de votação da North Canton, Ohio.
"Adicionalmente", diz O'Connor "as máquinas DRE guardam os votos em dois e às vezes em três cartuchos de memória diferentes. Diferentemente da Flórida, onde cada recontagem em 2000 levou a um número diferente, as DRE dão exatamente a mesma recontagem a cada vez".
Mercuri não se convence "É apenas uma imagem do que está no computador, e nós não temos meios de saber se estes números estão corretos".
"A maioria dos sistemas DRE incluem pequenas impressoras para imprimir a totalização dos votos no fim do dia, mas não para imprimir uma cópia de cada voto na hora em que é dado, por ser incômodo e caro" diz Robert Naegele, consultor da Pacific Grove, Califórnia, e ex-chefe técnico da Associação Nacional de Dirigentes Estaduais de Eleições.
Chaum, para resolver o problema, criou um recibo em duas camadas que, com o uso de um scanner e uma página na Internet, deixa os eleitores confirmarem seu voto sem revelar sua identidade. Embora este sistema seja confiável e seguro, as impressoras especiais que ele exige são caras.
Na quinta-feira, a SureVote, empresa de Chaum, anunciou uma versão que não requer scanner e trabalha com as impressoras de 50 dólares que já equipam a maioria dos sistemas DRE para imprimr os resultados no fim do dia. A tecnologia ainda não está sendo comercializada.
Mercuri diz que as máquinas atraentes de hoje dão apenas a ilusão de progresso. "Em muitos casos, é preferível as comarcas manterem a tecnologia atual, ou, se precisam mudar, que seja para sistemas óticos que permitem votos em papel que podem ser recontados independentemente" diz ela.
"Isto é, até que apareça algo realmente inovador, como a tecnologia de Chaum" acrescenta.
"Nós ainda usamos lápis, ainda falamos ao telefone que usa peças projetadas por Graham Bell" diz Mercuri. "Não há nada de errado com tecnologia funcional sensata".
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