Eu estudei em escolas e universidades públicas,
tenho vinte anos de carteira assinada no ramo da informática. Assim, sinto a obrigação
cidadã de contribuir com meu país e seu povo, através desta visão crítica do
sistema eleitoral brasileiro
ANO 2000
Neste ano 2000 teremos a eleição inteiramente eletrônica. Serão milhões de
eleitores elegendo mais de 70.000 prefeitos e vereadores em centenas de milhares urnas eletrônicas.
A maior eleição eletrônica do mundo e a única informatizada em todas as etapas.
URNA ELETRÔNICA
A urna eletrônica é um microcomputador. Os programas desenvolvidos pelo TSE formam
apenas uma parte do conjunto de software necessário ao seu funcionamento. Toda a garantia
do voto eletrônico baseia-se exclusivamente na confiança e idoneidade dos autores de programas
brasileiros e estrangeiros, visto que as urnas eletrônicas funcionam sem comprovações.
FRAUDES ELETRÔNICAS
30% das empresas brasileiras atuantes em transações eletrônicas já foram lesadas
eletronicamente (2), porém sistemas auditáveis deixam rastros nas chamadas trilhas para auditoria.
A Receita Federal foi palco do furto de milhões de Declarações do Imposto de Renda e é uma
entidade cujo o site foi reconhecido internacionalmente por sua versatilidade e segurança (?).
Sabemos que não existem sistemas 100% seguros. No processo eleitoral a questão da segurança
se torna mais grave, já que o eleitor não pode ser associado ao seu voto. Assim o único fiscal
do voto é o próprio eleitor e não existe autoridade no país com competência
para argüir o voto de um cidadão. Temos na mão, enfim, um sistema inauditável.
SIGILO DO VOTO
O problema do sigilo é o nş do título de eleitor ser digitado na mesma urna
eletrônica onde é depositado o voto.
Toda a arquitetura dos computadores é desenvolvida no sentido de associar
dados. Mantê-los absolutamente desvinculados é impossível. Aleatório em
computação não existe, só pseudo-aleatório.
A solução é não digitar o título de eleitor em nenhum meio eletrônico
ou mecânico durante a votação. Isso permitiria até a utilização de mais
de uma urna por seção eleitoral, eliminando filas e esperas.
HONESTIDADE DO VOTO
Outra questão é que vemos a foto e o nome do candidato na tela e não temos
certeza deste mesmo voto ser gravado no disquete. Apenas acreditamos, já
que o disquete é ilegível aos nossos olhos.
Aqui a solução é usar a impressora já existente na urna. Esta poderia
imprimir o voto, a cada vez que se aperta a tecla "confirma", e mantê-lo
visível ao eleitor através de um visor. Ao último comando de cada eleitor,
o papel seria cortado mecanicamente, caindo dentro da urna para posterior
conferência ou recontagem. Aí o eleitor pode ter certeza de que seu voto
foi para o candidato escolhido pois o voto impresso no papel é legível ao
único fiscal possível nesse processo - o próprio eleitor.
No final, pega-se 2% das urnas e faz-se a comparação disquete x voto
impresso. Não deve haver diferença.
REFLEXÕES - Eleição de 1998
" ... isso não significa que não vá haver tentativas de fraudes. Mas quem
for tentar terá de subornar pelo menos uns 30" - Paulo Camarão Sec. Informática do TSE
à Folha de São Paulo (Caderno Eleições, pág. 5) em 23/09/98.
Haverão interesses nacionais e internacionais em eleições brasileiras?
É possível a um partido político auditar o funcionamento de sistemas
operacionais, drivers diversos, memória ROM e sistemas das urnas?
Quantas? Todas? Quando? Em que ambiente e circunstâncias?
Que certificadora nacional ou internacional séria atestou o modelo da nossa
urna eletrônica?
Por que países de sólidas democracias e tecnologicamente superiores ao
Brasil não adotam modelo similar nas suas eleições?
Por que o TSE não reconhece a fragilidade do sistema adotado e muda-o já?
Existe o Projeto de Lei do Senado PLS 194/99 do senador Roberto Requião, já
aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, que modifica radicalmente o
modelo de eleição eletrônica brasileiro, adotando muitas idéias como as
aqui sugeridas.
Onde estão as entidades de classes, sindicatos, associações, diretórios
acadêmicos, universidades, OAB, ABNT e classe política que vêem o país
submeter-se a um sistema eleitoral sem referência histórica e geográfica e
não abrem sequer um debate sobre o assunto?
Por que é legal o procedimento eletrônico sem papel, exclusivamente no
sistema eleitoral?
No sistema bancário toda transação eletrônica tem um voucher (testemunho/comprovante).
Nos terminais eletrônicos de vendas do comércio o consumidor recebe uma via da
nota fiscal, ficando a outra rebobinada dentro da máquina. No Brasil, fax, e-mail e
carta não-registrada não tem valor documental. Por que o voto eletrônico terá?
Se o TSE tem a fórmula contra interferências indesejadas nos sistemas
eletrônicos, por que não vendemos ou doamos este modelo para empresas
bancárias, ecommerce, portais da Internet e ainda à Receita Federal. Além
de IBM, AT&T, Microsoft, Netscape, etc? O mundo agradecerá.
CONCLUSÃO
Não sou contra a eleição eletrônica. Muito pelo contrário! O processo
eletrônico sério elimina uma grande soma de pequenas fraudes, resultantes de erros e "mapismos"
do processo tradicional. Porém, o processo eletrônico não-sério abre espaço
para poucas fraudes de grande poder, além de criar a fraude limpa irrecorrível.
Desconheço a existência de fraudes ocorridas até hoje em nossas eleições
eletrônicas.
Tudo que apresento aqui é para que elas não aconteçam. As mudanças aqui propostas
não tem custo alto. Falta muito pouco para ter-se um sistema realmente confiável.
Já se gastou US$ 500,000,000.00 com urnas eletrônicas (1).
Democracia não tem preço.
Abaixo a datadura!
Referências:
(1) Fórum do Voto Eletrônico
(2) Jornal da Globo, 22/11/99.
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