Jornal do Voto-E

Recorte do Jornal     A Tribuna da Imprensa
Rio de Janeiro, 20 de junho de 2002

A sutil história de Nelson "Lobim"

Extrato da Coluna do Sebastião Nery

No edifício Belvedère, Setor de Autarquias Sul, no começo da Asa Sul, Plano Piloto, em Brasília, um famoso escritório de advocacia, o "Escritório Ferrão", tinha gravados em bronze, na parede da entrada, durante muitos anos, três nomes Dr. Ferrão, Eliseu Padilha, Nelson Jobim.
Toda a cidade sempre soube que era o mais poderoso, influente e cacifado escritório de advocacia administrativa, de lobby, de Brasília. Problema nenhum, se não houvesse dois problemas Eliseu Padilha e Nelson Jobim acumulavam a advocacia lobista com os mandatos de deputados pelo PMDB do Rio Grande do Sul.
Jobim foi deputado federal de 86 a 94. Em 94, abandonou a Câmara, não se candidatou mais. O escritório não ficou sem representante. Elegeu em 94 Padilha para o lugar de Jobim. Na Câmara, o saudoso e sarcástico deputado Getulio Dias (PDT-RS) só chamava Nelson Jobim de Nelson "Lobim".

O trio da madrugada

Em 95, com a eleição de Fernando Henrique, o "Escritório Ferrão" saiu das sombras lobistas para o sol do poder. Jobim foi ser ministro da Justiça. Padilha continuou lobando no escritório e na Câmara. Em maio de 97, depois de comandar o caixa-2 do PMDB para aprovar a emenda da reeleição, Fernando Henrique premiou Padilha com o Ministério dos Transportes.
Ministros, os dois, Jobim e Padilha, deixaram oficialmente o escritório. Mas ficaram lá os eflúvios, as almas e os dois nomes, gravados em sombras na parede, depois de arrancadas as letras em bronze. Jobim saiu do Ministério da Justiça para o Supremo Tribunal. Padilha saiu do Ministério dos Transportes para prestar contas ao Ministério Público, que apura os escândalos do DNER.
Sábado de madrugada, às três da manhã, três homens chegaram esbaforidos à casa do ministro Nelson Jobim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, no Lago Sul, em Brasília. Michel Temer, Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha, chamados por Jobim, foram lá perguntar o caminho das pedras.

Não chamou o guarda

Era mais um turvo escândalo na Justiça brasileira. O presidente do Tribunal, que, como juiz, está legalmente impedido de tomar partido de partes, em vez de chamar o guarda-noturno, mostrou aos três como deviam fazer um mandado de segurança para derrubar a liminar concedida pelo corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Salvio Figueiredo, companheiro de Jobim no TSE, que havia anulado a fraude na convocação da convenção do PMDB.
Jobim ainda mandou os três clientes à casa de seu principal assessor, com o mandado de segurança contra a liminar do corregedor, para o assessor escrever o despacho a ser assinado por ele, Jobim, derrubando a liminar.
Como é mesmo o nome disso? Respostas para o TSE e o Supremo.

TSE perdeu respeito

O País se escandalizou diante do despudor. O candidato Garotinho pediu a suspeição de Jobim e seu imediato afastamento da presidência do TSE. O senador Roberto Requião, da tribuna do Senado, também exigiu a saída de Jobim, "porque estamos diante de um caso da maior gravidade".
"Estamos diante de um caso muito mais grave do que a violação do painel do Senado. É evidente a parcialidade da Justiça."

O senador Roberto Freire, presidente do PPS, mesmo atucanado, reagiu:
"Suspeito que o ministro cometeu ato de improbidade administrativa. O TSE vai perder o respeito para conduzir as eleições."

O ministro Walter Costa Porto, do TSE, também ficou indignado:
"Jamais aconteceu coisa parecida na história do Direito Eleitoral brasileiro."

O jurista Celso Bastos, da OAB de São Paulo, não se surpreendeu:
"Não me lembro de nada assim antes, mas não me surpreende porque Jobim sempre foi o ministro que decide a favor do governo." (JB)

Na "Folha", Janio de Freitas "Jobim comprometeu o sentimento, tão necessário, de isenção da Justiça Eleitoral".

Rudolfo Lago e Denise Rothenburg, no "Correio Braziliense":
"Jobim criou constrangimentos no Judiciário, porque pemedebistas aliados do governo contaram que ele deu orientações para os procedimentos que deviam ser adotados" (para ele, Jobim, derrubar a liminar do corregedor).

Serra pode tudo

Na Bahia, quando Antonio Carlos mandava e desmandava no Tribunal Regional Eleitoral, como fez em 94 contra a eleição de Waldir Pires para o Senado, garfada para Waldeck Ornellas, toda a imprensa do Sul disse que era um abuso de poder de uma oligarquia nordestina (e era mesmo).
Agora, o presidente do TSE se põe escancaradamente a serviço do candidato do governo, José Serra. Que oligarquia é essa? Oligarquia jurídica?
O TSE proibiu Ciro de aparecer no programa do PTB, que já fez convenção apoiando-o. Anteontem, Serra estava com Cesar Maia no programa do PFL do Rio. E o TSE não diz nada. Que vergooonha, Boris!


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