Recorte do Jornal
A Tribuna da Imprensa
Rio de janeiro,30 de maio de 2002
Especialistas apontam falhas no processo do voto eletrônico
de Brasília
O Brasil é um dos poucos países, talvez o único no mundo,
em que o processo eleitoral está todo informatizado. Do cadastro de
eleitores à totalização de votos, tudo é feito via computador. Para
discutir aspectos relacionados ao processo eletrônico de votação, a
Fundação Alberto Pasqualini, do Partido Democrático Trabalhista (PDT),
a União Nacional dos Estudantes (Une) e a União Brasileira dos
Estudantes (Ube) realizaram ontem, na Câmara dos Deputados, o
Seminário do Voto Eletrônico.
Confiabilidade, vulnerabilidade, transparência, otimização,
honestidade foram alguns dos temas abordados pelos palestrantes. Todos
foram unânimes em afirmar que o sistema é uma evolução em relação ao
voto manual, mas questionaram itens relacionados à segurança da
informação e a impossibilidade de acesso aos programas.
Segundo Benjamin Azevedo, engenheiro consultor da JDA Software Brasil
e um dos palestrantes, o programa que faz o controle e a apuração dos
votos é simples, está bem desenvolvido, mas como todo software, faz o
que o programador quer e está sujeito a falhas.
Ele disse que os partidos só têm acesso a uma parte do software
eleitoral e isso não é suficiente para que se afirme que o sistema
está imune a erros e fraudes. Para solucionar isso, o Fórum do Voto
Eletrônico, entidade civil formada por internautas, da qual Azevedo
faz parte, sugere a abertura completa dos programas e sistemas da
urna, antes das eleições, e a criação de meios efetivos de auditoria
das urnas, antes e depois da votação.
Além desse, o Fórum do Voto Eletrônico aponta outros três defeitos das
urnas eletrônicas a não permissão para recontagem dos votos; a
suscetibilidade a fraudes já na programação e a possibilidade de
identificação do voto pela digitação do número do título eleitoral
pelo mesário, quando da eleição.
Alguns dos palestrantes citaram o caso da violação do painel do
Senado, no ano passado, para ilustrar a vulnerabilidade dos sistemas
de votação eletrônica. O professor Walter Del Picchia, da Escola
Politécnica (Poli) da USP, afirma que da mesma forma que foi possível
entrar no sistema e verificar como votou cada parlamentar no processo
de cassação do Senador Luiz Estevão, é possível identificar como votou
cada eleitor.
Como está estruturado, com o mesário digitando o número do título
eleitoral e logo em seguida o eleitor registrando seu voto, é imediata
a associação eleitor-voto, como numa função bijetora, em que para cada
elemento só há um correspondente, explica Del Picchia. A eliminação de
qualquer digitação que identifique o eleitor é a sugestão do Fórum do
Voto Eletrônico para solucionar essa questão.
Um dos mecanismos sugeridos para verificar se não está havendo
alteração dos votos, a impressão paralela do voto, já será testado
nessas eleições. Assim, logo após o voto, o sistema irá gerar um
comprovante em papel, visível ao eleitor por um visor, sem contato
manual, que será utilizado posteriormente para confrontar os totais
eletrônicos com os manuais. Previsto para ser adotado nas eleições
municipais de 2004, o sistema permitirá a conferencia de 3% do total
de urnas utilizados na eleição.
A discussão levantada pelos palestrantes é que o processo seria
honesto se as urnas a serem auditadas fossem escolhidas após a eleição
e não antes, como prevê a lei. É a mesma coisa que avisarmos antes de
uma partida de futebol quais serão os jogadores selecionados para o
exame anti-doping, compara Azevedo.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem que desenvolver tecnologias
para facilitar a fiscalização das eleições eletrônicas e não basear
todo o processo na honestidade de quem criou o sistema, disse Del
Picchia.
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