A primeira eleição totalmente eletrônica no país deve ter seus
resultados analisados com extremo cuidado pela mídia e com uma certa preocupação dos
partidos políticos no que se refere aos mecanismos de votação, fraude eleitoral,
divulgação e conferência de votos.
Ficou bem claro que além da fiscalização nos locais de votação devem ser previstos
também fiscais de partido e jornalistas, com profundo conhecimento em informática,
no TRE e no TSE, órgãos que passaram a ter poder imensurável, c
oncentrado nas mãos de seus técnicos.
Não bastasse ainda os inúmeros erros de digitação, a má divulgação dos procedimentos
(até a candidata Luiza Erundina confessou ter errado), reclamações e desconfianças geradas
em torno da votação, a questão do controle do voto, certamente, foi a mais grave.
Dois bips seguidos, sem pausas, no número 1, indicavam claramente que o candidato votado era o 11.
O som era ouvido por todos os presentes na sala de votação. Os demais números
também tinham características reconhecíveis e revelavam o humilde voto do eleitor,
que perdeu a condição do voto secreto.
Nada disto foi discutido nos jornais ou nas televisões, mas os fiscais de partido e os candidatos
sabem muito bem do que estou falando. As conferências de votação solicitadas pelos
candidatos derrotados, votações estas repassadas até mesmo por e-mails e telefones celulares,
ou os casos de disquetes perdidos, simplesmente foram ignoradas pelos TREs,
que na maioria dos casos não admitiu a recontagem ou a retotalização dos disquetes,
dando por encerrada e decidida a eleição sem apelos. Por quê?
Meros coadjuvantes
Os números totalizados não seriam exatamente os mesmos?
Ou os arquivos sofreram alterações? A falta de provas materiais (cédulas) e a conferência de
números virtuais em disquetes, em alguns casos sem o lacre, também colocam em
dúvida o perfeito funcionamento do sistema, que se mostrou muito rápido,
talvez até rápido demais para que sejam percebidos erros ou fraudes.
Mas a mídia não está dando atenção a estes fatos. Por quê?
Daí pergunto se os pequenos casos, de pequenos municípios, não foram solucionados,
ficando as respostas dos juízes eleitorais como verdades absolutas, sem acesso dos partidos à
recontagem dos votos nos disquetes, como será a próxima eleição?
Como será uma eleição bem mais complexa, com a Presidência da República
em jogo e mais governadores, senadores e deputados? Como contestar o resultado de uma eleição
em que o juiz aponta o vencedor em poucas horas, e esta informação é dada como
verdadeira e definitiva por toda a mídia em poucos segundos?
Não quero aqui colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral, nem mesmo a capacidade
de os juízes decidirem os recursos interpostos pelos partidos, muito menos propor um retrocesso
na questão do voto eletrônico, quero apenas advertir que este novo processo
tem que ser muito bem observado pelos partidos e pela mídia
para que o poder das urnas não fique em pouco tempo nas mãos dos hackers e nós,
eleitores, nos tornemos meros coadjuvantes do processo eleitoral.