Jornal do Voto-E

Recorte do Sítio     Observatório da Imprensa
Internet, 28 de Outubro de 2000

Prato cheio para os hackers
Paulo Arenhart, jornalista

[Página original]

A primeira eleição totalmente eletrônica no país deve ter seus resultados analisados com extremo cuidado pela mídia e com uma certa preocupação dos partidos políticos no que se refere aos mecanismos de votação, fraude eleitoral, divulgação e conferência de votos.

Ficou bem claro que além da fiscalização nos locais de votação devem ser previstos também fiscais de partido e jornalistas, com profundo conhecimento em informática, no TRE e no TSE, órgãos que passaram a ter poder imensurável, c oncentrado nas mãos de seus técnicos.

Não bastasse ainda os inúmeros erros de digitação, a má divulgação dos procedimentos (até a candidata Luiza Erundina confessou ter errado), reclamações e desconfianças geradas em torno da votação, a questão do controle do voto, certamente, foi a mais grave. Dois bips seguidos, sem pausas, no número 1, indicavam claramente que o candidato votado era o 11. O som era ouvido por todos os presentes na sala de votação. Os demais números também tinham características reconhecíveis e revelavam o humilde voto do eleitor, que perdeu a condição do voto secreto.

Nada disto foi discutido nos jornais ou nas televisões, mas os fiscais de partido e os candidatos sabem muito bem do que estou falando. As conferências de votação solicitadas pelos candidatos derrotados, votações estas repassadas até mesmo por e-mails e telefones celulares, ou os casos de disquetes perdidos, simplesmente foram ignoradas pelos TREs, que na maioria dos casos não admitiu a recontagem ou a retotalização dos disquetes, dando por encerrada e decidida a eleição sem apelos. Por quê?

Meros coadjuvantes

Os números totalizados não seriam exatamente os mesmos? Ou os arquivos sofreram alterações? A falta de provas materiais (cédulas) e a conferência de números virtuais em disquetes, em alguns casos sem o lacre, também colocam em dúvida o perfeito funcionamento do sistema, que se mostrou muito rápido, talvez até rápido demais para que sejam percebidos erros ou fraudes. Mas a mídia não está dando atenção a estes fatos. Por quê?

Daí pergunto se os pequenos casos, de pequenos municípios, não foram solucionados, ficando as respostas dos juízes eleitorais como verdades absolutas, sem acesso dos partidos à recontagem dos votos nos disquetes, como será a próxima eleição? Como será uma eleição bem mais complexa, com a Presidência da República em jogo e mais governadores, senadores e deputados? Como contestar o resultado de uma eleição em que o juiz aponta o vencedor em poucas horas, e esta informação é dada como verdadeira e definitiva por toda a mídia em poucos segundos?

Não quero aqui colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral, nem mesmo a capacidade de os juízes decidirem os recursos interpostos pelos partidos, muito menos propor um retrocesso na questão do voto eletrônico, quero apenas advertir que este novo processo tem que ser muito bem observado ­ pelos partidos e pela mídia ­ para que o poder das urnas não fique em pouco tempo nas mãos dos hackers e nós, eleitores, nos tornemos meros coadjuvantes do processo eleitoral.


Voltar ao início do texto
Voltar ao Jornal do Voto Eletrônico