Recorte traduzido do
New York Times
Nova York, 23 de maio de 2004
EUA
Aumenta a Exigência de Registro em Papel de Votos Eletrônicos
título original : "Demand Grows to Require Paper Trails for Electronic Votes"
de Katharine Q. Seelye, traduzido por Roger Chadel
[veja o texto original em inglês]
Uma coalisão de cientistas da computação,
grupos de eleitores e altos funcionários estaduais, liderados por
Kevin Shelley, Secretário de Estado da Califórnia, está tentando
forçar os fabricantes de máquinas eletrônicas de votar a equipá-las
com dispositivos de verificação do voto pelo eleitor em papel.
Após os problemas das eleições na Flórida em 2000, vários estados e
centenas de comarcas se apressaram em jogar fora seus sistemas de
votação por cartões perfurados e comprar sistemas eletrônicos por
toque de tela. A Election Data Services, uma empresa de consultoria
especializada em administração de eleições, estima que em novembro
próximo 50 milhões de americanos - cerca de 29% do eleitorado -
possam estar votando em máquinas de toque de tela, contra 12% em 2000.
Mas no último ano analistas eleitorais documentaram tantas falhas,
incluindo o desapareciemnto de nomes da cédula, e especialistas em
computadores demonstraram que as máquinas são tão vulneráveis a
hackers, que os críticos se organizaram para frear o avanço das
máquinas de toque de tela com um movimento para exigir recibos em
papel.
Recibos em papel - comprovantes do voto - permitiriam aos eleitores
verificar que o voto foi registrado de acordo com sua intenção e a
recontagem dos votos em casos de disputas mais acirradas.
Nem todo mundo concorda que recibos em papel sejam necessários, ou
mesmo aconselháveis. Vários funcionários eleitorais locais - os que de
fato cuidam das eleições - argumentam que recibos em papel podem criar
problemas piores que os que eles deveriam eliminar. Eles avisam sobre
engripamento de papel, confusão do eleitor e atrasos nas cabines
eleitorais.
Não existe normas nacionais para ajudar a resolver as pendências. A
comissão federal criada pelo Congresso depois de 2000 para orientar os
estados está atrasada, e o corpo de pesquisa que deveria estabelecer
as normas para novembro de 2004 nem foi nomeado. Os estados, então,
pressionados por organizações de eleitores, estão tentando resolver
este assunto diretamente.
Nevada, que estará usando máquinas de toque de tela em todas suas
seções em novembro, foi o primeiro estado a exigir do fabricante o
acoplamento de impressoras a tempo de serem usadas no dia das
eleições.
A Califórnia está exigindo recibos verificáveis pelo eleitor em papel
em todas as máquinas adquiridas depois de novembro; nesta eleição,
foram banidas as máquinas de toque de tela a menos que as comarcas
cumprem determinadas normas de segurança. Três comarcas estão
acionando o Estado para suspender a proibição e uma quarta disse que
tem planos de usar as máquinas de toque de tela de qualquer modo.
Shelley disse que ele estava exigindo das comarcas permitir que
eleitores votem em papel se desejarem, mesmo se não houver problemas
aparentes com as máquinas. "É uma questão de confianç a do eleitor",
disse numa entrevista.
Mais de uma dúzia de outros estados está preparando uma legislação que
exija backup em papel, e o Congresso, que havia deixado o assunto
morrer, está considerando propostas semelhantes.
"As pessoas estão exigindo isso", diz o deputado democrata por Nova
Jérsei Rush D. Holt, que apresentou uma proposta de lei que exige que
em novembro os eleitores votem em cédulas que eles possam verificar.
Isto pode ser atendido anexando uma impressora aos sistemas de toque
de tela ou obrigando as comarcas a voltar para sistemas de leitura
ótica baseados em papel ou até mesmo cartões perfurados.
Grupos de eleitores, estimulados após um relatório publicado em julho
do ano passado por espcialistas em segurança da Univeridade Johns
Hopkins que alertava sobre as armadilhas dos sistemas de toque de
tela, têm incitado uma revolta de eleitores. Durante as eleições
primárias desta primavera, grupos como a "Campanha pelo Voto
Verificável" incitaram milhares de deleitores em vários estados a
depositar votos em papel ao invés de usar telas de toque sem
comprovantes em papel.
Infelizmente para os eleitores de Maryland que seguiram sua sugestão,
entretanto, os funcionários locais determinaram que votos em papel
eram inválidos e não os contaram.
"A eleição primária de Maryland foi uma experiência de aprendizado
muito instrutiva para todos os ativistas" disse Kim Alexander,
presidente e fundador da Fundação do Eleitor da Califórnia, um grupo
de ativistas em Sacramento que está ajudando grupos de eleitores a se
organizarem pelo país.
"Há movimentos em muitos estados, e estamos trocando informações"
disse ela. Ela considera um ponto de sucesso que 75% das comarcas no
país estarão usando em novembro o mesmo equipamento usado em 2000.
"Prefiro ver eleitores votando em cartões perfurados do que em
sistemas eletrônicos que não podem ser verificados", concluiu.
Ohio é o último estado a exigir o comprovante em papel. No começo do
mês, o governador Bob Taft, um republicano, sancionou uma legislação
que exige que todas as máquinas de toque de tela das comarcas possam
imprimir comprovantes em papel em novembro de 2006. Mas a lei permite
que neste ano sejam usadas máquinas sem comprovantes.
Alguns parlamentares, como a senadora estadual democrata de Toledo,
Teresa Fedor, diz que isso não faz sentido. Se um comprovante em papel
é importante, ela argumenta, por que permitir que os eleitores os
dispensem, mesmo por uma só eleição, principalmente num estado onde a
corrida presidencial é tão acirrada? Ela defendeu com sucesso que as
comarcas possam adiar a compra de máquinas. "Não podemos fechar os
olhos para isso, é muito preocupante" acrescentou.
Em resumo, conselhos eleitorais de 31 comarcas estão debatendo o
adiamento de compras. Depois que o governador Taft assinou a lei, 18
decidiram esperar.
"Ohio é agora o nosso grande esforço", disse Will Doherty, diretor
executivo da VerifiedVoting.org, um grupo que defende o comprovante em
papel.
Doug Chapin da Electionline.org, uma consultora de informações
eleitorais criada pela Pew Charitable Trust, disse que Ohio está
"jogando os dados" para verificar se o comprovante em papel é mesmo
necessário.
"Você tanto pode construir uma cerca à beira do precipício como
colocar uma ambulância no vale", ele disse. "O comprovante em papel é
a ambulância no vale. Certificar as máquinas e testá-las para ter
certeza de que são seguras é a cerca à beira do precipício".
Mas mesmo em estados que exigem comprovantes em papel, máquinas
equipadas para produzi-los são raras.
David L. Dill, um professor de Ciência da Computação da Universidade
de Stanford e fundador da VerifiedVoting.org, disse que modelos com
comprovantes em papel foram testados em alguns poucos países. E um
punhado de pequenos fabricantes os produzem.
Porta-vozes de vários grandes fabricantes têm dito que eles podem
produzir comprovantes impressos se for obrigatório, mas Têm resistido
à idéia, argumentando que eles são desnecessários.
Entretanto, se mais comarcas os exigirem, os fabricantes querem ser os
primeiros para fechar esses contratos potencialmente lucrativos. Se um
estado como Nova Iorque, por exemplo, que está considerando a
obrigatoriedade do comprovante impresso, juntar-se à Califórnia, a
indústria irá provavelmente mudar de opinião rapidamente.
Howard Cramer, vice-presidente de vendas da Sequoia Voting Systems,
que fornece máquinas e impressoras para Nevada, disse que a empresa
não tem preocupações com segurança e precisão de suas máquinas de
toque de tela. Ele disse que colocar impressoras em Nevada pode ser
uma experiência útil porque outras comarcas as exigem, embora ache que
os eleitores irão se sentir tão à vontade com máquinas de toque de
tela que rapidamente irão dispensar os comprovantes impressos.
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