Na qualidade de Auditor de Sistemas, contratado pela
"Coligação Aracaju Quer Maria", recebi a missão de acompanhar os trabalhos de apuração
eletrônica através dos disquetes originários das urnas eletrônicas. Bem recebido,
fiquei instalado dentro de uma sala do TRE/SE, onde estavam os microcomputadores do TSE
programados para a leitura destes dados. Percebi claramente o cuidado com a segurança,
visto haver vários níveis de bloqueios, impedindo que estes disquetes pudessem ter sido
manipulados em outros computadores. É praticamente impossível a violação de um disquete
destes com sucesso, para nossa tranqüilidade.
Congratulo o TRE e TSE pela seriedade e cuidados na condução desta primeira eleição eletrônica.
Contudo, quem merece os maiores elogios é o povo brasileiro que demonstrou sua habilidade
frente a nova tecnologia produzindo o resultado eleitoral limpo e consciente que podemos ver no
quadro abaixo.
ARACAJÚ - 1996
Votantes |
250.799 |
Ausentes |
40.265 |
Presentes |
210.534 |
|
Votos para prefeito |
Votos para vereador |
NULO |
21.332 ou 10,1% |
18.954 ou 9% |
BRANCO |
2.231 ou 1,06% |
6.748 ou 3,2% |
À primeira vista, concluímos que a opção pelos votos em branco e nulo, na
sua maior parte, é intencional. Ou, como explicar que houve mais voto nulo
para prefeito que para vereador, que mais exige do eleitor.
Esta modernidade deu um salto qualitativo no processo eleitoral, reduzindo
as fraudes e o estresse da apuração manual. Contudo criou-se espaço para um
novo inimigo extremamente perigoso: o software. Isto mesmo, o software, o
programa de computador que é responsável pelo funcionamento da urna
eletrônica (que é um computador dedicado a este fim).
Se na rotina eleitoral tradicional as fraudes eram freqüentes, também deixavam rastros
e sua abrangência estava limitada a algumas urnas. Agora, através dos
computadores o seu alcance pode ser total e hermético.
Precisamos tomar medidas reais e concretas contra esta possibilidade. Hoje o mundo
gira bilhões de dólares em dinheiro eletrônico e quase nada ouvimos falar sobre
fraudes, é que as empresas lesadas preferem calar-se e assumir o prejuízo
para não colocar a credibilidade de seus sistemas em risco.
Tenho conhecimento de um cartão de crédito nacional que sofre lesões mensais
da ordem de um milhão de reais e agüenta calado, repassa este rombo aos
clientes através da taxa de juros. E vejam que estou falando de dados
acessíveis para auditoria, que possuem comprovantes, contabilidade,
testemunhas e outras provas.
Como técnico de informática venho levantar as seguintes questões:
- Como o eleitor tem a garantia de que o voto realmente gravado no
disquete e impresso na fita de papel corresponde ao que ele selecionou na
tela?
- Como se pode comprovar que o programa em uso no dia da eleição está
funcionando exatamente como quando testado pelo TSE e partidos políticos? É
possível fazer um programa mutante, que se automodifica em função de
circunstancias previstas pelo programador, a exemplo de data, hora, etc.
Sendo o sigilo do voto uma garantia constitucional, entendo que o único
fiscal contra fraude eletrônica é o próprio eleitor, que deverá ver o seu
voto impresso e caso haja discordância entre o selecionado na tela e o
impresso na fita de papel, deverá acionar uma tecla de emergência
(semelhante a usada nos elevadores) que congele a máquina neste ponto até a
chegada do juiz responsável por aquela seção.
Vamos mudar as urnas eletrônicas já, acrescentando um visor à sua
impressora e um botão de "emergência". Vamos aproveitar este primeiro
teste, bem sucedido, para corrigir rumos, ou, passar um dia o vexame de ter
"vírus" escolhendo governantes de homens.