Recorte do
Jornal do Commercio
Rio de janeiro, 01 de agosto de 2002
O "um" que falta... *
texto publicado na coluna Segurança, Bits & Cia
por Renato Martini e Israel Bayma
Diretores do Cipsga/RJ
* este artigo se refere a um outro artigo publicado no Jornal do Brasil,
cujo trecho inicial transcrevemos abaixo para orientação do leitor,
onde se atribui "nota nove" à segurança da Urnas Eletrônicas.
A grande mídia tem um bom conceito sobre a segurança das urnas eletrônicas brasileiras - o que reflete em geral o senso comum sobre o tema. Mas esse senso comum não é sacrossanto em matérias técnicas. Talvez algumas reportagens façam uma avaliação positiva e atribuam "notas" às UEs. Por exemplo, nota nove?
Ressalvando-se o fato de serem apenas reportagens para o grande público, e não um debate de cunho acadêmico, essa nota em função de qualquer avaliação seria curiosíssima. Pois fica faltando um "um" na urna. Talvez não um "um" na base decimal que merecesse mais ou menos que a nota nove. Quem sabe um "um" binário, que dependendo da posição na "palavra", pode assumir valores maiores ou menores. Afinal, um sistema de votação e apuração "nota dez" seria um sistema 100% seguro. Existem
sistemas digitais absolutamente seguros? Não.
Não encontramos sequer um administrador de sistemas que conheça um dispositivo digital - em rede ou isolado - absolutamente seguro. Todavia, parece que nosso tribunal, que preside um processo eleitoral dessa envergadura, encomendou o estudo da brilhante equipe da Unicamp com esse propósito. Ter um documento que pudesse dar nota dez às nossas máquinas de votar.
Atribuir notas dessa forma não possui sentido algum na matéria segurança digital.
Claro que podemos pôr sistemas dentro de uma classificação, mas somente a partir de critérios objetivos. Assim fez o Departamento de Defesa dos EUA no famoso Orange Book Security Criteria. Deve-se estabelecer critérios bem definidos e, se um dado sistema enquadrar-se, pode então receber tal ou qual classificação. Foi neste sentido também que Peter Neumann, da SRI International, em 1993, rascunhou "critérios de segurança" para a votação eletrônica.
Nos últimos pleitos eletrônicos, o TSE, que rege as eleições, tem falhado ao optar por uma concepção baseada na "segurança por obscurantismo". A nosso ver, uma posição equivocada que o tribunal assume ao não revelar boa parte do código-fonte dos programas usados na UE. A idéia é que, se não conhecemos o código-fonte (aplicativos, bibliotecas), temos incremento da segurança!
O ponto nevrálgico do problema aqui é a necessidade imperiosa de transparência. Se o Brasil optou pela informatização total, a UE brasileira é uma "máquina de apuração direta", onde tudo é feito, os programas ali inseminados têm de ser auditados e validados de forma rigorosa. Essa equação não é compreendida tão-somente por especialistas. Expliquemos o problema ao cidadão, e ele entenderá "Ora, se nosso voto é manejado apenas por softwares, e gravado em memórias digitais, então...". Ensejamos aqui outro problema o sistema brasileiro não suporta a recontagem, pois não materializa o voto. O extenso relatório
"Voting Technology Project" do MIT/Caltech sabiamente desaconselhou esse procedimento...
Em outros anos, vale lembrar, a maior parte dos programas usados não foram conhecidos, e ainda assim alguns técnicos deram seu aval. Nossa expectativa para os próximos dias 5 a 9 de agosto, quando o TSE mostrará "todos os programas de computador que serão utilizados nas Eleições 2002", segundo anuncia a Instrução Normativa 7, é grande. Sobretudo, que não seja somente uma "cerimônia", uma mera formalidade, mas sim o rigoroso exame da base sobre a qual são construídas nossas UEs. Exame que deve ser assentado dentro dos princípios mais universais da segurança digital.
Renato Martini e Israel Bayma
Trecho inicial da matéria publicada no Jornal do Brasil em 14 de julho de 2002
por Cid Benjamin
subeditor de Brasil
O engenheiro Artur Obino Neto, coordenador da equipe técnica do PT que auditou as urnas eletrônicas que serão usadas nas eleições gerais deste ano, faz sobre elas uma avaliação bastante positiva. ''Embora ainda possa ser aperfeiçoado em alguns aspectos, em geral o sistema é bastante avançado e seguro. Eu lhe daria nota 9''.
A opinião de Obino, que é analista de sistemas da Coppe/UFRJ, tem o endosso de três outros especialistas petista no relatório apresentado pelo grupo há duas semanas à direção nacional do partido.
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