Nas eleições deste ano, todos os eleitores brasileiros vão
eleger seus candidatos a prefeito e a vereador utilizando o voto eletrônico. Serão 354
mil urnas eletrônicas distribuídas por 315 mil seções eleitorais, nas quais
estão aptos para votar 107 milhões de eleitores. Só que o sistema é
vulnerável a fraudes e não possui mecanismos que permitam sua fiscalização
pelos partidos políticos.
A denúncia foi feita ontem, na associação Brasileira de Imprensa (ABI), no
Rio de Janeiro, pelo engenheiro Amílcar Brunazo, especialista em sistemas
de informática e segurança de dados e integrante do Fórum do Voto
Eletrônico, site que reúne 150 pessoas para discutir o assunto no endereço
da Internet www.brunazo.eng.br/voto-e.
A Lei 9.504, que regula o voto eletrônico, em seu Artigo 66, dá, aos
partidos políticos, o direito de conhecer todo o programa da urna
eletrônica. Apesar disso, segundo Brunazo, os partidos aceitaram, sem
questionar, a decisão do Tribunal superior Eleitoral (TSE) de permitir o
acesso apenas parcial ao programa da urna eletrônica.
Essa limitação, na opinião do especialista, não se justifica. Por isso, ele
encaminhou ao TSE uma correspondência questionando as razões de se proteger
parte do programa e querendo saber que partes são essas que só estão
acessíveis a alguns funcionários do Tribunal.
Reside neste aspecto uma das brechas para ocorrência de fraudes, diz o
engenheiro, pois "a segurança da urna depende de algumas pessoas e está
sujeita ao grau de honestidade dessas pessoas". Pelo sistema, que custou
US$ 500 milhões ao País, "não há garantias técnicas de que o voto não será
identificado nem desviado", afirma Brunazo.
Manipulação. Um problema importante é o fato de o número do título ser
digitado, pelo eleitor, na mesma urna que receberá seu voto. Isso dá margem
a manipulações, acredita o engenheiro, que aponta ainda a impossibilidade
de o eleitor certificar-se de que seu voto foi registrado, no sistema,
exatamente como ele o preencheu.
Como não há mecanismos definidos para fiscalização, Brunazo diz que não é
possível saber se o sistema estará funcionando como deveria ou se
apresentará vícios que podem corrompê-lo e prejudicar a clareza e a
precisão das informações.
- Se o software estiver viciado, poderá desviar votos - antecipa o
engenheiro, que foi convidado pelo TSE para conhecer o funcionamento do
sistema após ter apresentado suas dúvidas à Comissão de Constituição e
Justiça do Senado Federal. A visita ao Tribunal está prevista para o dia 15
deste mês.
Brunazo reconhece que a urna eletrônica elimina determinados tipos de
fraude comuns no sistema tradicional, no qual a cédula de votação é
preenchida e depositada na urna, mas está seguro de que, da forma como está
sendo organizada no Brasil, a urna eletrônica abre espaço para outros tipos
de fraude.
Além de o eleitor não ter como conferir seu próprio voto, a sociedade não
tem como certificar-se de que o resultado que sairá da urna eletrônica não
sofreu alterações ou foi objeto de fraude. "Tudo que temos é a palavra do
TSE", acentua o especialista, considerando de alto risco um sistema cuja
segurança depende de algumas pessoas com acesso exclusivo.
Com o objetivo de aperfeiçoar o sistema e evitar fraudes, o Projeto de Lei
194/99, apresentado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), anula o
registro do número do título do eleitor no mesmo ambiente (a urna) no qual
será registrado o voto e estabelece a exigência de impressão do voto em papel.