Sou obrigado a voltar a um tema já tratado neste espaço a propósito da violação do painel eletrônico do Senado.
Quando surgiram as primeiras indicações de que houvera o trambique, cobrei uma inspeção, por peritos independentes, também no sistema de urna eletrônica que o Brasil adotou e do qual algumas de suas autoridades se orgulham imensamente.
O texto foi escrito antes de sair o relatório da Unicamp informando que, de fato, o painel do Senado pode ser violado.
Se é assim, nem o mais ingênuo dos ingênuos nem o sujeito da mais profunda boa-fé passariam, agora, um atestado de absoluta correção ao sistema pelo qual o país escolhe todas as suas autoridades, do vereador ao presidente da República.
Pode até ser que se trate, de fato, do sistema perfeito, capaz de dar inveja aos norte-americanos depois do vexame que foi a apuração do pleito do ano passado. Como pode ser que se trate de um mecanismo ainda mais maceteado que o do Senado.
Até porque, no Senado, os interesses em jogo, nas (poucas) votações secretas, são relativamente menores. Se, mesmo assim, houve quem se preocupasse em saber como cada senador votou, imagine de que não seriam capazes os candidatos à Presidência da República.
Em pleitos presidenciais anteriores, houve boa dose de terrorismo para desgastar candidatos de esquerda, em especial Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em um deles, o empresariado despejou rios de dinheiro para eleger um aventureiro de nome Fernando Collor não porque ele fosse bom candidato, mas porque era o único capaz de vencer a esquerda.
Essa gente não poria, de novo, pilhas de dólares para fraudar o mecanismo eleitoral? O Tribunal Superior Eleitoral não tem o direito de fazer-se de morto, como se pudesse jurar por Deus que o sistema é inviolável. Sem auditoria isenta e competente, ninguém pode assegurar a lisura do próximo pleito.