O perito Carlos Coana, 43, investiga crimes digitais no
Instituto de Criminalística da Polícia Civil de São Paulo e foi um dos responsáveis pela
prisão de Israel Manzino, o maior fraudador de cartões de crédito do Brasil na década de 90.
Coana analisou uma cópia do edital de licitação da urna eletrônica e alguns pronunciamentos
de membros do TSE, no Congresso e na resposta ao recurso do PDT,
sobre o sistema de votação e levanta questões sobre a segurança do voto eletrônico.
O principal problema que vê é o de que a urna não deixa rastros de papel para facilitar
a fiscalização por qualquer eleitor, tornando eventuais fraudes ou erros de
programação praticamente indetectáveis.
Segundo ele, os partidos políticos brasileiros, em geral, ainda não estão preparados para
fiscalizar uma eleição completamente digital.
"(A programação colocada na urna) É virtual. Tudo o que passa virtualmente não tem
contato físico, só lógico. É preciso conhecer, saber examinar e monitorar princípio, meio e fim.
Essa sessão pública, com todos esses procedimentos, é como se fosse um
ato de liturgia da Idade Média. É uma representação, mas o que está ocorrendo ninguém sabe."
O perito alerta que nenhum sistema é 100% seguro e que a segurança de um sistema
sempre corre atrás das fraudes. Ainda que a urna tenha eliminado diversas fraudes tradicionais,
diz, ela impede a fiscalização ampla e constante dos partidos políticos para detectar
se há novas fraudes ou erros de programação.
A Folha entrevistou o engenheiro Oswaldo Imamura, um dos principais responsáveis
pelo projeto da urna eletrônica, para responder sobre as medidas de segurança digital
adotadas pela Justiça Eleitoral para aperfeiçoar o sistema de votação.
Imamura confirma que o processo completamente digital de votação eliminou a
possibilidade de recontagem e reconhece que é necessário um conhecimento técnico apurado
para fiscalizar as eleições digitais. Segundo ele, para contestar resultados o candidato
precisaria "desrespeitar a lei".
Questionado sobre o preparo dos partidos políticos para fazer essa fiscalização,
apontou apenas um fiscal mais ativo, convocado pelo PT para analisar o programa usado nas urnas.
Ainda assim, ressalvou que ele examinou apenas uma parte do programa
-a da contabilidade dos votos.
O presidente do TRE do Espírito Santo e do colegiado de presidentes dos TREs,
desembargador Alemer Ferraz Moulin, afirmou que a maior parte dos problemas de que foi
notificado por seus colegas se refere a um cartão comprado na China e utilizado em algumas urnas.
No cartão, são armazenadas as informações sobre os candidatos.
Em algumas cidades, eleitores alegam não ter visto a foto de seu candidato na tela da urna eletrônica
ou ter visto a imagem de outro candidato. Entre 16 e 18 de novembro, os presidentes dos
tribunais regionais eleitorais se reúnem em Vitória (ES) para debater os avanços e
as novas questões surgidas com a informatização completa das eleições.