O voto pela urna eletrônica não pode ser recontado em casos de falhas
no sistema, interferência humana e até fraudes eleitorais no Brasil.
De acordo com o advogado Paulo Gustavo Sampaio Andrade do Fórum do Voto Eletrônico, o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a pretexto de diminuir custos e evitar questionamentos judiciais,
desprezou procedimentos de garantia dos direitos do eleitor, deixando abertas brechas para novos
tipos de fraude, "muito mais sofisticadas - e o que é pior, totalmente indetectáveis".
Os especialistas em urnas eletrônicas apontam três falhas principais. A principal é a falta de
comprovação física do voto, o que elimina a possibilidade de recontagem para verificar
eventuais divergências em relação à intenção do eleitor. O procedimento de comprovação
serviria para certificar se o voto exibido para o eleitor é o mesmo gravado na memória da máquina.
Outro questionamento é em relação a auditoria dos programas de urna eletrônica.
O TSE se recusa a apresentar alguns programas, desrespeitando a Lei 9.504. Os programas da urna nunca
foram apresentados integralmente para os partidos, apesar da determinação legal.
O PDT ingressou com ações para garantir o direito dos partidos a conhecer o conteúdo
integral dos programas da urna, em 2000. O TSE não forneceu as condições para que
houvesse o conhecimento, deixando dúvidas sobre a honestidade do sistema.
Os especialistas também apontam a possibilidade de violação sistemática dos votos,
já que a digitação do título do eleitor ocorre antes da urna ser liberada para a
votação.
Existe um projeto de lei do senador Roberto Requião (PMDB-PR) para que cada voto seja impresso.
A intenção é que o eleitor faça a conferência visual. A proposta também
é defendida pelo Fórum.
Se a impressão estiver correta, o eleitor confirma e deposita o voto em uma urna plástica.
Depois da apuração eletrônica, poderiam ser escolhidas 3% das urnas plásticas,
aleatoriamente, para a verificação. O resultado seria conferido por amostragem.
O eleitor se tornaria o fiscal de seu voto. O procedimento dificultaria uma possível fraude
eletrônica, já que existiriam os votos impressos das urnas plásticas.
Depois da confusão das eleições americanas, houve um discurso quase unificado de que
se a urna eletrônica estivesse sendo usada, o "problema" de recontagem de votos não ocorreria.
Esqueceram-se de que é direito dos perdedores questionar os resultados das eleições,
principalmente quando a diferença de votos é pequena.
No Brasil, houve reclamações de eleitores que diziam não ter visto a foto correta do candidato
quando erraram e votaram primeiro no prefeito. Como a urna esperava o voto para vereador,
acabava contando o voto para legenda (sem foto). Os votos para legenda de vereador
cresceram totalmente fora do padrão. Depois, o eleitor tentava votar para vereador e a
urna esperava que o número digitado fosse para prefeito. Novamente, não aparecia o
candidato escolhido. Muitos eleitores não conseguiram votar corretamente.
Em Várzea Grande, interior de Mato Grosso, até mesmo o prefeito candidato a
reeleição não conseguiu votar em si próprio. A sua foto não apareceu no terminal.
Em Araçoiaba da Serra, São Paulo, nenhuma urna aceitava voto para sete candidatos a vereador do
PT do B. O Juiz foi chamado pela manhã para constatar o problema. Ele ordenou que os mesários
identificassem quem queria votar em tais candidatos, mandando-os retornar depois das 14 horas.
A atitude já configura uma violação ao direito do voto secreto. No horário estabelecido
pelo juiz, as urnas ainda continuavam a não aceitar votos dos sete candidatos. Então, o juiz
mandou que os eleitores dos candidatos anulassem o voto na urna eletrônica para vereador.
Os eleitores deveriam votar no papel.
Quando houve a apuração, ficou constatado que havia mais votos que eleitores na cidade.
O juiz resolveu anular todos os votos no papel, descumprindo a sua própria determinação.
Os sete candidatos não tiveram nenhum voto. A reclamação para nova votação foi
feita, mas negada pelo TRE. Apesar do fato, consta nas estatísticas do TSE que a eleição em
Araçoiaba da Serra ocorreu sem problemas com a urna eletrônica.
Depois das eleições municipais, a imprensa divulgou protestos, passeatas, greves de fome e
até revoltas com fóruns sendo incendiados em várias cidades. Mas os Tribunais Eleitorais
Regionais (TREs) não aceitaram qualquer pedido de recontagem.
A conclusão é de que nos Estados Unidos ainda existe a possibilidade da recontagem.
No Brasil, não. Nas estatísticas do TSE consta que não houve nenhuma necessidade de
recontagem de votos no país.