A Assembléia Legislativa de Minas gerais promoveu, no dia 30 de junho,
uma jornada inteira de debates sobre o sistema de votação eletrônica,
que vem sendo implantado pelo Tribunal Superior Eleitoral desde o pleito de 1996 e que este ano será,
pela primeira vez no país e no mundo, utilizado em todas as etapas do processo eleitoral.
Dos debates, participaram os expositores Paulo César Bhering Camarão, pelo TSE;
Elizabeth Rezende, pelo TRE/Minas; Evandro Oliveira, pela Empresa de Informática e
Informação de Belo Horizonte (Prodabel); e os debatedores Moacir Casagrande,
assessor técnico do PT junto ao TSE; Amílcar Brunazo Filho, pelo Fórum do Voto Eletrônico,
e Márcio Coelho Teixeira, também pelo fórum, especialista em software básico.
Participaram ainda dos debates Paulo Nakaya, Oswaldo Catsumi e Antonio Ézio,
consultores do TSE; Marcos Lalo, representante da Procomp, empresa de computação
envolvida na programação eleitoral; Frederico Gregório, representante da Microbase,
outra empresa incluída no processamento eletrônico; Newton Almeida, assessor de planejamento do TSE,
e Cláudio Rego, perito judicial em informática. Numa iniciativa de alta significação informativa,
a sessão foi integralmente transmitida ao vivo pela TV Assembléia, que entra aberta no canal 40 e,
fechada, no canal 11, permitindo-se também a participação do público.
Controlar o processo
O deputado Rogério Correia (PT-MG) fez breve exposição sobre os motivos que o levaram a montar
e a coordenar o debate, com o apoio do presidente da Comissão de Constituição e Justiça
da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Ermano Batista.
Argumentou que "a adoção da urna eletrônica suscita pelo menos duas grandes questões:
será o direito do voto exercido pelo eleitor ou pela máquina? E, em segundo lugar,
como pode o eleitor fiscalizar a observância do seu voto?"
Rogério Correia explicou que o controle do processo hoje está nas mãos de uns poucos especialistas.
Questionou se essa exclusividade de manuseio não poderia levar a fraudes.
"São aspectos que evidenciam a vulnerabilidade do voto pela via eletrônica e que precisam
ser esclarecidos, tendo em vista as próximas eleições municipais". Destacou também
que esta era a razão de promover a discussão sobre a segurança do voto eletrônico.
O deputado destacou, ainda, que "as fraudes eleitorais sempre ocorreram no cenário político
de nosso país. O voto de cabresto, a troca de voto nas urnas, a adulteração dos votos
antes de serem contados constituíam algumas dessas fraudes. Com o avanço tecnológico,
chegamos às urnas eletrônicas, mas não à eliminação das fraudes. Surgiu um novo tipo de delito
- o desvio de votos mediante a alteração nos sistemas de informática.
O assunto é certamente delicado, já que se comprova que os recursos eletrônicos são falíveis."
Rogério Correia lembrou que, para resolver o problema, muitas propostas estão surgindo,
como o projeto de lei nO 194/99, em tramitação no Congresso Nacional,
de iniciativa do senador Roberto Requião. Entre outras providências,
o projeto recomenda a emissão, pela urna, do voto impresso, confirmando a escolha do eleitor.
"O fato é que devemos evitar que as vantagens da urna eletrônica, entre elas a rapidez da
apuração, sejam anuladas por ilegitimidades que representem retrocesso para a
evolução democrática", frisou o parlamentar mineiro.
TSE: urna à prova de fraude
O primeiro expositor da sessão foi Paulo César Camarão, responsável pelo setor de
informática do TSE. Camarão disse, entre outras coisas, que a principal premissa da
implantação do voto eletrônico no Brasil, definida em 1995 pelo então presidente do TSE,
Carlos Veloso, foi o de acabar com as fraudes eleitorais no Brasil.
Frisou que a Justiça Eleitoral trabalha integralmente voltada para o respeito à vontade do povo
- possibilitando a eleição dos representantes legitimamente eleitos. O representante do TSE
garantiu que "a urna eletrônica foi construída com toda a seriedade".
Manifestou também a intenção de mostrar, em todos os detalhes, como a urna funciona,
o que foi explicado pelo assessor Paulo Nakaya, que acompanha o projeto de informatização
do voto desde o início dos trabalhos, em 1995. Primeiro, Nakaya relatou que a urna de 1996 era uma,
a de 1998, outra e, agora, em 2000, "as urnas receberam novos aperfeiçoamentos técnicos".
Segundo Nakaya, a urna é lacrada e à prova de invasão externa, e que os programas
também são totalmente garantidos. Frisou que não é possível preparar programas que
viciem a eleição, porque o TSE não saberia quem são os candidatos - assim,
não haveria como associar programas a candidatos, de modo a beneficiar uns e prejudicar outros.
Garantiu: "Não adianta a Procomp tentar botar um código estranho no programa,
porque não vai bater com o nosso."
Técnicos: incertezas concretas
A confiabilidade absoluta, atribuída pelos técnicos do TSE aos programas utilizados
para os processos de votação e totalização, não é compartilhada pelos técnicos
independentes que vêm, através do fórum do voto eletrônico, levantando pontos
discutíveis da legislação e de sua prática.
Os representantes dessa corrente no debate contestaram a certeza demonstrada pelo TSE.
Segundo Amílcar Brunazo Filho e Márcio Coelho Teixeira, tecnicamente é indefensável a
certeza dos representantes do TSE. Ambos voltaram a destacar as possibilidades de
manipulação do sistema (veja, a propósito, a matéria de capa da edição nē 219 de cadernos),
e condenaram sobretudo a forma fechada pela qual o assunto é tratado,
tolhendo a possibilidade de fiscalização por parte dos partidos políticos e
qualquer tipo de comprovação que dê ao eleitor a certeza da correta
destinação de seu pronunciamento.
A uma afirmação categórica por parte da equipe do TSE de que "o sistema de voto eletrônico
implantado no país é 100% garantido e inviolável", Amílcar Brunazo pôde contrapor que seria
extremamente categórico na afirmação contrária de que o sistema é 100% inseguro.
A polêmica, portanto, se mantém de pé, reforçada pelo fato de que os partidos pouco acesso
têm à questão e nenhum se atreve a afirmar que possui a capacidade de exercer uma
fiscalização adequada sobre o processo, como lhe garante a legislação e presume a democracia.
Ao Congresso cabe buscar um aperfeiçoamento do processo, como propõe o projeto do
senador Roberto Requião.
Copyright Editora Terceiro MilênioŠ. Todos os direitos reservados.