O engenheiro e especialista em segurança de dados Amílcar
Brunazo Filho, um dos técnicos que ajudaram na redação do projeto do
senador Roberto Requião (PMDB-PR) modificando o voto eletrônico,
afirmou ontem que o atual sistema pode permitir a quebra do sigilo da
votação e a ocorrência de fraudes. Segundo ele, além dos problemas
técnicos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não dá aos partidos
acesso total aos programas de votação, e a legislação que instituiu o
voto virtual é omissa quanto à possibilidade de o pleito ser auditado
para recursos, como ocorre nas eleições com cédulas de papel.
"A urna eletrônica tem um monte de vantagens -eliminou fraudes
tradicionais, como troca de votos e apuradores que rabiscavam
cédulas-, mas é vulnerável a novas burlas, como programas viciados,
identificação dos votos e desvios de votação", afirmou Brunazo, que é
formado em engenharia mecância pela Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo (USP), com especialização em segurança de dados. Em 2000,
a eleição municipal será a primeira da história do Brasil totalmente
eletrônica. Serão 107 milhões de eleitores, usando 354 mil urnas para
eleger 5.549 prefeitos e 57.316 vereadores.
Moderador do Fórum do Voto Eletrônico, Brunazo afirmou que atualmente,
nas urnas eletrônicas, os partidos têm acesso apenas ao aplicativo (o
programa usado pelos eleitores para votar). O TSE não lhes permite
checar nem o software básico (o sistema operacional, sobre o qual
`roda' o outro programa), nem a criptografia (que codifica os dados da
votação para impedir fraudes quando forem copiados em disquete). Outra
falha, para ele, é a digitação do número do eleitor no mesmo ambiente
magnético em que ele vota: em tese, isso poderia ser o fim do voto
secreto assegurado na Constituição.