O penteado


Uma a cobra, chamada Scibele, sentiu-se assaltada por um estranho desejo: queria, por que queria, pentear o cabelo; só que não tinha cabelo para pentear.

Seu amigo Espeto, um porco espinho, se prontificou a ceder alguns pelos de sua barriga, que eram mais macios, para que Scibele pudesse fazer uma peruca. Ela só teria que esfregar a cabeça na goma que escorria de uma árvore e em seguida colar os ‘cabelos’.

Assim foi feito. Espeto, meio desajeitado, foi colando chumaços de pelos macios no cocoruto enlambuzado de Scibele. Parecia estar dando certo, ficou tudo lá, bem grudadinho. Desgrenhado mas grudadinho.

Foi quando Espeto perguntou:

    — Mas, Scibele, como você vai pentear o seu cabelo ? Você não tem mão para segurar o pente !

    — Isto é fácil, Espeto. Seguro o pente com o meu rabo. Levanto a cabeça, assim, e com a cauda penteio o cabelo. Olha, assim... ( e Scibele se contorceu toda para mostrar seu malabarismo para Espeto )

    — Está certo. Você está meio desequilibrada mas parece que vai dar. Só que tem um outro problema. Você já arrumou o cabelo e a mão. Mas e o pente ? Você não tem pente, tem ?

    — Ih, é mesmo. Não tinha pensado nisso. Humm... Você tem algum pente para me emprestar ?

    — Não, não tenho, Scibele. Mas acho que tenho uma idéia. Ontem, quando passava lá pelo riacho, ví uma porção de espinhas de peixe secas, na margem. Acho que elas servirão direitinho para pente. Vamos até lá ?

    — Boa idéia !... Vamos, vamos logo.

Chegando lá, Espeto mostrou à Scibele onde estavam as espinhas secas de peixe. Scibele escolheu uma, que lhe pareceu firme, segurou-a com a rabo, deu umas batidinhas com o ‘pente’ no chão para ver se os espinhos não se soltavam e, em seguida, ensaiou uma passada de pente no cabelo.

    — Bom... Bommmm — disse Espeto.

    — Bom, não, está ótimo ! Eu já estou me penteando. Só que está faltando um espelho. Agora eu preciso me ver e ver o que estou penteando.

    — Isto é fácil. Suba naquela árvore alí, até chegar naquele galho sobre o rio. De lá você poderá se ver refletida nas águas do rio.

    — Puxa vida! Mais uma boa idéia que você me deu.
    ( e lá foi a Scibele subir no galho da árvore )

    — Oh... Ssspeto. Daqui de cima não dá para eu me enxergar direito no rio. Está muito alto !

    — Então se olha daqui de baixo mesmo. Vá até a margem e faça aquele seu malabarismo para se pentear.

    — Tá... tá bom...

Chegando na beira, Scibele esticou o pescoço sobre o rio e ví seu reflexo. Nossa, estava horrível, a peruca toda embaraçada. Aí, quando levantou o rabo para pentear o cabelo...

Cathibum...

Scibele perdeu o equilíbrio e caiu n’água. A água dissolveu a cola e soltou a peruca.

    — Eu bem disse que você estava meio desequilibrada, Scibele. Quem nasceu para careca nunca chega a Sansão !


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